Convivendo com as feridas que fazemos e que nos fazem

 Num tempo onde a terra ainda vivia a era glacial, havia um grupo de pequenos animais que se pareciam muito com os bebês-foca e eram, sem dúvida, o mais numeroso grupo de habitantes do planeta.
Eram fofos e muito bonitinhos, mas tinham o seu corpo coberto por afiados espinhos, o que acabava prejudicando a convivência deles em grupo, pois bastava se aglomerarem e um feria o outro de maneira brutal.
Por isso, todos eles sangravam, praticamente, todos os dias, pelas feridas que os outros lhes faziam e por outro lado, faziam com que outros também sangrassem pelas feridas que lhe causavam.
Certa manhã o líder, cansado de ver aquela situação, tomou a decisão de que todo o grupo deveria separar-se e deveriam viver sozinhos, assim nenhum mais machucaria o outro.
Assim foi feito e cada um dos bichinhos seguiu um caminho para longe de seus companheiros.
Essa separação realmente passou a fazer com que as feridas cicatrizassem, além de não mais se ferirem novamente, só que gerou um outro problema a todos do grupo.
Na era glacial o frio era intenso, com temperaturas muito, muito baixas e os bichinhos começaram a morrer de frio, de uma maneira tão rápida, que seu líder já estava sem saber como proceder pois havia morte em massa.
Quando nada mais parecia possível de se fazer, um dos animaizinhos disse:
– Nós passamos a viver separados por causa das feridas que nos o outros nos faziam e das feridas que fazíamos nos outros, mas agora, como não estamos mais convivendo juntos para nos aquecermos um ao outro deste frio terrível, estamos morrendo um a um rapidamente e com certeza nossa raça será extinta em pouco tempo. Vamos todos morrer congelados!
Diante de tal declaração o líder resolveu reunir todo grupo e deu novas ordens:
– A partir de hoje, todos nós voltaremos a viver juntos, como uma boa sociedade e um ótimo grupo, pois dessa maneira continuaremos a nos aquecer um ao outro. Quanto às feridas que nossos espinhos causam uns nos outros, teremos de aprender a conviver com elas, pois dessa adaptação dependerá nossa sobrevivência. Será muito melhor convivermos com as feridas que nos fazem e com aquelas que fazemos do que morrermos todos e nossa raça ser extinta!
Assim, a raça foi preservada, e com o passar dos tempos os bichinhos foram perdendo seus espinhos e ganhando pêlos e as lindas focas estão aí para dar continuidade a esta história.
Em nossa vida muitas pessoas nos ferem, mas muitas vezes também somos nós os causadores de feridas em outras pessoas e temos de reconhecer isso. Temos que compreender as feridas que nos fazem e perdoá-las, reconhecer as que fazemos e nos corrigirmos.
Com certeza, um dia, nossos espinhos também vão tornar-se pêlos de tanto lutarmos para nos aquecermos um aos outros e as feridas não mais existirão.
Não mudaremos o mundo, mas o tornaremos muito mais digno como nosso espaço de vida.

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