MINHA SÃO PAULO

Todo paulista carrega um pouco de terra desta cidade em seu bolso. Seja em forma de garoa fina, em forma de chuva forte, em forma do cinza da poluição ou até mesmo o silêncio das tumultuadas ruas e praças que descansam no domingo.
Talvez seja para lembrar o quanto é eclética esta cidade de tantas faces que encanta o povo que por aqui sonha com uma oportunidade única cantada em prosa e verso pelos repentistas.
Entre tanta gente diferente, nações do mundo encontram abrigo, imigrantes constroem uma filial de seus países e ilhas de culturas surgem pelos cantos estreitos desta cidade que tem um coração maior que a demografia assinalada em seu mapa.
Capital da primeira pizza brasileira pelo gosto da Castelões, o paulista paulistano deixa de ser da garoa para ser da pizza, bem talvez seja melhor dizer: paulista paulistano da pizza com garoa.
Para quem cresceu na zona leste, no bairro de Vila Prudente, conduzido pelas mãos de um especial pai, Antonio Romão e cuidado ao chegar em casa por uma especial mãe Martha Romão, muitas recordações ainda ficam em minha memória.
Quando nos dias de hoje poderia se cruzar um rio pela água para ir até o campo de várzea, onde o futebol era a melhor maneira de fazer nossos sonhos correrem de um lado para outro? E o prêmio era o “Torneio do Galo”, entre o time do Búfalo e o Santa Cruz, valia mesmo a disputa com o Parque da Moóca.
O abastecimento de nossos estilingues para treino de tiro ao alvo era feito com as centenas de pés de mamona que beiravam as margens do rio.
Os bairros convergiam para o centro e passear por ele era um programa e tanto. Na rua Direita e na Praça da Republica um descanso e um pouco de requinte na descida da rua Augusta.
O maior temor desta fase era o bandido da luz vermelha, uma lenda que logo sentiu as mãos da lei e a cidade ficou segura, escola publica sempre disputada, colégio pago uma dádiva para quem podia freqüentar.
Agora esta minha cidade, esta nossa cidade está com 450 anos, será que ficou mais velha?
– Quem sabe!!!!
Uma cidade como São Paulo na verdade não envelhece, a cada ano dá um passo a mais rumo ao futuro, rumo a se tornar a grande manjedoura de nosso país, ela não seria ela se não pudesse abrigar tantos sonhos e tantas esperanças de pessoas que por aqui passam e são convidadas a ficar.
Entra governo, sai governo, entra prefeito, sai prefeito…Embora quando um entra e o outro sai, pouquíssimas coisas que o outro faz são respeitadas e levadas à frente…Afinal estamos sempre num recomeço de novas obras e projetos, pelo fato do projeto do político anterior ser invalidado, a cidade recebe, a cidade aceita a paralisação, a cidade assimila o aniquilamento, a cidade resiste com coragem, a cidade agradece, a cidade não perde a esperança de um dia não mais ver seus projetos em situação de descartáveis.
É, São Paulo sempre agradece, agradece como agora, por ter avançado no tempo em 450 anos com dignidade e uma irrepreensível conduta de metrópole exemplar. Uma cidade como esta não envelhece, avança no tempo, avança na vida, avança na história e faz história.
Uma história que se confunde com o jeitão cantado do paulistano, uma história que se confunde com as idéias de Piratininga, com heróis da resistência MMDC, imortalizados no Obelisco do escultor Galileo Emendabili, vigiados por mais 723 ex-combatentes constitucionalistas, entre badaladas festas de Rosana Beni pelo social ou pelo altruísmo de servir e dividir caridade, aos eventos empresariais da KLA, olhos ávidos da rede de Jornais de Bairros Associados, a triste realidade de nossos menores abandonados por nossos adultos abandonantes povoando as esquinas e longe de ser um cartão postal, na revoada das mansões rodeadas pelas favelas e na disputa por uma vaga no estacionamento dos shoppings e também na disputa por uma vaga para se dormir embaixo de uma ponte, assim esta Locomotiva do Brasil segue nos trilhos.
Uma cidade de muitos heróis, heróis de revoluções, heróis da canção, heróis da seresta, heróis da cultura, heróis da fome, heróis sem teto, heróis sem terra, heróis da fama, heróis dos bondes, heróis dos mêtros, heróis pingentes dos ônibus e milhares de heróis anônimos.
Uma cidade de muitos anônimos, anônimos apaixonantes, que vão saindo do anonimato aos poucos, sem a força da TV, mas com a força de seu trabalho, ah! que saudade do Sargento do Exército da Salvação…Aqui a saudade bateu forte e muitos seriam os lembrados.
Do estilo Giovanni Bruno, ao sabor do Au Liban, as franquias americanas encontram espaço e os shoppings tentam mudar a imagem de praia paulistana para serem a nova Praça, mas a Praça de Carlos Imperial, cantada na voz de Ronnie Von, quer sim ver a Banda passar, afinal os paulistanos acreditam como Carlos Alberto de Nóbrega, que a Praça é Nossa, muita nossa.
Da partida dos Bandeirantes na cidade de Santana de Parnaíba ao Grito às margens do Riacho do Ipiranga, ainda corre no coração desta cidade veias ardentes pelo progresso que avançou nestes 450 anos e vai resistir a mais uma grande festa na Av. Paulista, a Paulista do Corso, a Paulista símbolo de palanque da democracia, onde o povo emerge suas teorias, sentimentos e civismo.
Uma cidade rica nas mais diversas áreas de mercado, rica em Bancos, rica em ricos, rica em bares, rica em Universidades, rica em provedores de internet, rica em diferenças sociais, rica em pichadores, rica em garis, rica em gente com jeito de gente.
Parabéns São Paulo, por 450 anos de lições importantes de política, de civismo, de humanismo e principalmente por me permitir viver contigo neste trajeto, uma infância inesquecível entre suas ruas ainda tranqüilas e seguras, onde minha pipa podia correr por horas em minhas mãos e meu carrinho de rolimã fazia frente ao carro vermelho de Eduardo Araújo, O bom… E durante a noite podíamos colocar nossas cadeiras na calçada e dar soco no sereno, com nossos bons vizinhos.
Parabéns São Paulo, por 450 anos de resistência pacifica, a todas as coisas ruins que lhe fizeram sem você merecer e parabéns pelo dom de transformar pessoas comuns cheias de sonhos em Paulistanos. Escolhi você minha São Paulo, para ser a terra onde planto o amor por minha mulher e companheira de todas as horas Thais e meus filhos Arthur, Breno e Ygor, pois só você sabe receber uma família em seu coração e consegue fazer com ela se sinta em casa.
E quem diria minha São Paulo, aqui estou terminando de escrever este texto voltando de uma de minhas palestras, olho pela janela do avião e percebo que encontrou tempo minha São Paulo para me homenagear com uma garoa.Ah! Minha Sampa…

Leave a comment