POVO INCONSEQUENTE, GOVERNO INCONSEQUENTE!

O nível de críticas ao governo vem aumentando momento a momento. O povo desce a lenha sem perdão, chegando a azedar o fígado com certas críticas que se tornam chavões no dia-a-dia e que muita gente já repete automaticamente.

– Temos um governo inconseqüente?

Temos sim, disto não resta dúvida…

– Mas onde ele nasceu, onde ele começou?

Começou no povo…

Estas pessoas que estão no governo, até se tornarem políticos polidos, cromados e cintilantes por fora, mas enferrujados por dentro, pertenciam ao povo. Descobriram as fraquezas e mazelas do povo, identificaram onde o povo sente-se à vontade e o que realmente faz com que deixe de lado os princípios, a ética e os valores que norteiam a vivência em comunidade organizada para formar um Estado.

Para melhorar o governo e torná-lo menos inconseqüente, é necessário melhorar o povo e torná-lo menos inconseqüente também.

Ao ver, numa estrada, um caminhão fazer uma conversão, direto na rodovia, sem estacionar no acostamento, como se ali fosse a rua de sua garagem; ao ver pessoas se levantarem em um avião em movimento no solo após o pouso, catando tudo como se fossem pular pelas janelas, apesar do insistente aviso da comissária: “por favor, fiquem sentados até a completa parada da aeronave para sua melhor segurança”; ao ver gente pedindo autógrafo para político corrupto que ri à toa em qualquer lugar, dentro do vôo de retorno a São Paulo vindo de Brasília as 19h30m.; ao ver pai dizendo aos filhos para não mentirem, mas quando em casa um filho atende um telefonema de alguma indesejável a ele, logo diz ao filho: “diga, diga que não estou em casa”; ao ver gente pedindo favores esdrúxulos em gabinetes de vereadores, ao invés de estarem mobilizando-se para conquistas sociais; ao ver as pessoas votarem hoje como se não houvesse um amanhã político; ao ver gente pedindo aos filhos que não gritem fazendo isso aos berros; ao ver, na sala de embarque, o anúncio da prioridade de embarque aos portadores de deficiência, idosos e crianças sendo totalmente ignorado pelos apressados e prioritários egoístas; ao ver gente que acredita que pode viver um amor como o da novela e cobra sua cara metade por isso; ao ver a ineficiência de nossas leis; ao ver a ineficiência de quem pode fazer mudanças acomodar-se nelas; ao ver a TV-Pinóquio cada vez mais improdutiva em horários políticos; ao ver que ainda temos horários eleitorais gratuitos, que de gratuito não têm nada, pois custa uma grana preta ao povo, pois os partidos para produzi-lo vendem terreno na lua e aviltam a moralidade do bolso da nação; ao ver que a seca ainda é uma bandeira de promessas políticas; ao ver os mesmos serem reeleitos, eleição após eleição, com seus passados comprometedores transformados em fonte de esquecimento…

Pergunto-me:

– Quem é o inconseqüente: o povo ou o governo?

É o POVO, que não se toca; que não se alinha em seus direitos, deveres, obrigações, valores e princípios. É o POVO, que ainda acredita que deve lamentar pela boca e cruzar os braços. Sim, os braços que um dia erguidos, seguraram uma espada proclamando nossa independência. Enquanto isso os seus, que poderiam ser usados para lutar contra a inconseqüência, ficam ali esperando que algo aconteça e que alguém faça algo. Nosso braço, forte instrumento de luta, cruza-se na zona de conforto e torna-se inconseqüente, como nossa mente e corpo.

O governo é inconseqüente porque foi eleito por um povo inconseqüente.

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