RESGATE DA AUTO-ESTIMA DO BRASILEIRO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou no lançamento da campanha publicitária “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”. A campanha lançada pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) pretende resgatar a auto-estima do brasileiro.

“Eu acho que tem valores que temos de resgatar: valores religiosos, familiares, do círculo de amizade”, afirmou o presidente, que declarou que tem discutido “uma perspectiva para encontrar uma solução [para a auto-estima do brasileiro], que não é econômica, porque no Brasil muitas vezes as pessoas tentam simplificar tudo na questão econômica”.

O presidente afirmou que “tanta gente de fora acredita tanto no brasileiro e nós, às vezes, não acreditamos”.

Eis um assunto com que fico feliz em ver na pauta presidencial: a auto-estima do brasileiro.

Somos um povo que entende de auto-estima. E como entendemos… Basta ver no mês de fevereiro, durante o Carnaval, a alegria que toma conta dos corações, este é o happy hour desse povo executivo.

Temos aqui um povo que se engana no voto das eleições passadas, mas, nas futuras, tem certeza que vai acertar.

Um povo que fica em longas filas, seja para matricular o filho na escola ou para ser atendido com urgência em uma consulta.

Um povo que faz romaria em direção à padroeira e ainda acredita em milagres.

Um povo que participa da campanha Fome Zero, entre tantas outras, e quando pergunta para onde foi sua dedicação na campanha, mesmo não tendo resposta, continua participando.

Um povo que vibra com as cores verde e amarelo durante o jogo da seleção, seja ela de qual modalidade for, contanto que seja verde e amarela, cantando o seu civismo através do esporte.

Um povo onde, de seu seio, pode cintilar um torneiro mecânico ou um líder sindical rumo à Presidência da Republica e que consegue fazer com que o salário mínimo pareça o salário máximo.

Eis assim uma dose do sonho americano acontecendo por aqui. Só que para um povo que é especial: o povo brasileiro…

O brasileiro tem auto-estima demais e, ao longo de minha carreira, tenho sentido o orgulho das pessoas naquilo que fazem, além da tremenda esperança que carregam nos corações, mesmo passando por situações pelas quais outros povos não souberam superar.

O brasileiro tem notícias ruins demais, todos os dias, divulgadas nos meios de comunicação em massa, na busca da justificativa para o anunciante obter maior visibilidade. Ou seja, notícia boa por aqui não dá “ibope”.

E, mesmo com tantas situações desagradáveis infladas pelo sensacionalismo, o brasileiro sorri e acredita que amanhã será melhor.

Amanhã será melhor mesmo!

Nosso povo tem toda a razão! Afinal não há, no mundo, povo tão esforçado. Esforçado sim, mas focado não.

Talvez esteja aí o ponto de reflexão para nós brasileiros: temos de transformar nossos esforços em resultados positivos. Resultados que produzam efeitos em todos os campos humanos nos quais vivemos: estado, educação, saúde, religião e família. Temos uma nação com demasiado senso de iniciativa e escassa eficiência conclusiva. Mais importante do que saber por onde se começa, é saber onde termina.

Hoje, só o amor não basta, temos de aprender a nos relacionar com quem amamos; só educar filhos não basta, precisamos nos reinventar como pais todos os dias; só acreditar na política não basta, precisamos estar mais presentes acompanhando de perto o trabalho de quem recebeu nosso voto; só procurar emprego não basta, precisamos desenvolver – todos os dias – novas competências de capacitação; só ter fé não basta, precisamos exercitá-la em todos os nossos atos…

Hoje muita coisa não basta…

Por isso, precisamos tomar consciência de que algo com planejamento e habilidade precisa ser feito, com competência, pois só assim muita coisa pode mudar.

Outro ponto de reflexão seria nossa condição de dependência paternalista: um padrão limitante de comportamento que surgiu na descoberta de nosso país. Um modelo imposto por colonizadores do império, deixando o povo sempre dependente, para que pudesse ver, no governo, a única fonte de solução e a única alternativa de desenvolvimento. Seguindo-se daí veio o mesmo padrão no universo empresarial, onde a empresa seria a grande fonte de esperança para se atuar na sociedade. Eis, assim, o sistema criando a dependência para difundir a obediência.

De tantas qualidades humanas e sociais, o povo brasileiro é o mais repleto de emoção, pois é um povo sensível e emocional. Falta desenvolvermos nossos lados didático, racional e lógico, com os quais vamos aprender a colocar nossa esperança, não no território nem no mapa que possuímos mas, em nossas ações, atitudes e comportamento.

Pessoas são motivadas por resultados, e são estes resultados que temos de aprender a empreender, aferir e incorporar em nosso dia-a-dia.

Instruir pessoas para a conquista de resultados é implementar nelas uma auto-estima elevada e capaz de gerar grandes transformações. Auto-estima é um reflexo de nossos valores, nossos sonhos e nossa manifestação humana diante de tudo que julgamos positivo e negativo dentro de nossas vidas. É o peso de nossas escolhas e decisões. Com estes dois fatores complementares pode-se desenvolver habilidade e visão para fazer das escolhas e decisões os fatores delineadores de novos horizontes e não criptas que levem a lápide: “aqui jaz um horizonte perdido”… Escolhas e decisões acertadas tornam-se uma opção a mais em nosso caminho; escolhas e decisões desacertadas tornam-se um fardo que atrasa nosso caminho. Devemos investir nosso tempo em tentar fazer a coisa certa, ou investiremos muito mais tempo para consertar a coisa feita de maneira errada.

“Eu sou brasileiro e não desisto nunca”. É preciso coragem para não desistir e, muito mais coragem ainda, para se aceitar o fato de estar muitas vezes comprometido com algo do qual já devia ter desistido. É fundamental ter profunda noção de onde vamos colocar nossa coragem. O povo brasileiro é um dos mais corajosos do mundo, porém de que vale implementar essa coragem em feitos que só nos fazem pessoas corajosas e nada acrescentam à nossa existência? Vejo muita gente que: não desiste de um relacionamento nocivo e vive no sofrimento, afastando-se da felicidade; não desiste de um emprego medíocre e perde oportunidades; não desiste de trocar voto por camiseta ou material para construção, e incentiva políticos sem ética; não desiste de religiões absurdas e desperdiça sua fé…

É mais ou menos como o exercício da fé: não devemos mostrar o tamanho de nosso problema ao nosso Deus, devemos mostrar o tamanho de nosso Deus ao nosso problema. O importante não é falar com o seu Deus, o importante é ser uma pessoa ouvida por Ele.

A questão não é nunca desistir, a questão é: vencer ou não vencer.

Eu sou brasileiro e vou vencer… Essa é a minha sugestão à campanha do Presidente.

Somos o que somos, porque vivemos aquilo que vivemos: nossa opção de vida é fator decisivo em nosso destino.

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