Quando se tem um muito contato direto com o público, numa carreira de escritor e conferencista como a minha, existe a oportunidade de ver e sentir, bem de perto, os reais anseios das pessoas, suas frustrações, seus objetivos, enfim tudo aquilo que faz a felicidade, o prazer e a infelicidade dessas pessoas.
Entre tantas descobertas, tenho notado algo em especial nos jovens: a busca pela Fama. De alguma maneira, alguns meios de comunicação vêm conduzindo as pessoas a pensar que a maneira de vencer na vida, ou ser alguém de reconhecimento, é ser alguém famoso.
– Mas, o que é alguém famoso?
– Mas, o que é realmente a Fama e o que ela traz de concreto à vida de quem a desfruta?
Essa síndrome da busca desenfreada pela Fama faz com que muitos jovens deixem de acreditar nos estudos, no empreendedorismo e em outros meios de conquistar vitórias em suas vidas.
Se eu contasse aqui algumas revelações das minhas pesquisas, no tocante ao que as pessoas estão dispostas a fazer para serem famosas, teríamos uma discussão e tanto, principalmente, para revermos nossos valores existenciais.
Mas a Fama é algo que pessoas perseguem ao longo da história da humanidade e, talvez, este seja o ponto: a perseguição da Fama. Talvez um dos efeitos da Fama, seja a sensação de poder que ela sugere às pessoas, afinal ao longo da história humana a graduação de lideranças foi feita pelo valor do poder que determinada pessoa detinha em seus domínios.
A Fama tem efeitos avassaladores em vários sentidos. Pode fazer uma pessoa expandir sua atividade além de fronteiras imaginárias e pode também trazer desafios inimagináveis.
Não faz muito tempo, O Fantástico mostrou o depoimento de pessoas comuns que fariam qualquer coisa pela Fama para viverem como seus ídolos. Em contrapartida entrevistou os ídolos destas pessoas. A parte incrível é que os ídolos dessas pessoas que fariam qualquer coisa para ser como serem como eles, afirmaram que gostariam de ser pessoas comuns; ter uma vida comum; que a vida de famoso é conturbada; ninguém lhe dá sossego e por aí afora. Na realidade os ídolos entrevistados queriam ser famosos, mas levarem uma vida como a das pessoas comuns.
É o blábláblá de algumas filhinhas de papai e patricinhas, verdadeiras burquesas-jecas, que possuem tudo, fazendo o estilo miséria urbana, dizendo “dinheiro não é tudo”, mas não dispensam uns quilos de ouro em jóias no pescoço…
E ainda tem muita gente famosa que ficou mais famosa ainda, mas queria a vida comum. Em sua vida comum que tanto almejava, quando perdeu a fama, entrou em depressão e agora vai ao terapeuta. Porém na saída de toda festa em que vai e um fotógrafo não lhe dá um “clique”, nem que seja só com o flash da máquina, ai ai ai…
– Será que a Fama pode realmente dar tudo que alguém almeja da vida?
É interessante como muita gente luta para conseguir algo e depois descobre que realmente o que era importante, estava bem ali ao seu alcance em tempos passados.
Fama não é pecado: é um processo de aceitação pela sociedade de algo que está sendo praticado. Devemos lembrar que nossa sociedade possui várias facetas e níveis sociais e culturais, e eis aí a razão de muita coisa estranha, assim como algumas pessoas estranhas fazerem fama. Fazem a fama dentro de seu universo social e cultural, mas a fama é algo expandido para uma visão geral.
A fama do fundão cai como bomba na turma do gargarejo e a fama da turma do gargarejo cai como absurdo na turma do fundão.
Nossos “modelos” sociais e culturais, por receberem hoje uma forte influência das melancólicas programações televisivas, onde uma parte da população, por ausência de personalidade, termina por ser contagiada pela personalidade dos personagens novelescos, quer viver em suas vidas os ti-ti-tis da televisão.
Basta notar a avalanche de produtos que são despejados no mercado, utilizados pelos personagens destas “propostas” de vida, enxertadas pela deficiência de realidade, que causa uma ilusão coletiva de que tudo aquilo que se vê na tela é um exemplo a ser seguido.
A fama vem e vai e, às vezes, também fica.
– Mas como a fama fica?
A razão de uma pessoa ser uma personalidade famosa e manter sua posição de fama é simples: ela possui uma atividade com conteúdo superior ao processo da fama efêmera. Ela possui algo que realmente leva à sociedade uma reação capaz de transformar, de alguma maneira, positiva e sentimentalmente. Observe que o sucesso de um personagem não garante o sucesso do ator.
A ânsia de muitos jovens em serem famosos nas passarelas e na TV, faz com que esqueçam de ser os heróis famosos de sua família, de seus amigos e até de sua crença.
Talvez a fama perpétua seja aquela em que o trabalho executado, ou a ação em processo, realmente tenha conteúdo de existência nas bases da ética e da conduta no caminho do bem.
Esta busca pela fama ficou tão estranha que, outro dia, em uma de minhas pesquisas, tive contato com um grupo de presos que afirmaram algo interessante sobre a “qualidade” de um bandido hoje. Eles disseram: “Bandido importante hoje não é mais aquele que é capa de jornal: é aquele que tem citação nos programas de TV que só mostram o banditismo. Tem ‘nego’ hoje que pratica crime só para ficar famoso e comandar o bando…”.
Esses programas de TV são os verdadeiros cavaleiros do apocalipse social e, principalmente, o grande espaço para bandidos chegarem à fama em seu meio de atuação.
Interessante é que nesta mídia onde a desgraça é famosa, nunca se mostra um médico salvando uma vida num hospital, alguém fazendo uma caridade, porque, na verdade, fica famosa a pessoa que rompe as regras do normal…
– Será?
Espero que você se torne uma pessoa muito famosa por tudo aquilo que fizer de bom ao mundo e às pessoas que estão ao seu alcance, pois esta é a maneira de perpetuar sua fama e fazer dela um exemplo a ser seguido.
Famosa mesmo é a pessoa que pratica o bem; respeita o meio em que atua; inspira-se no auxílio ao próximo; é um exemplo para seus familiares e outras pessoas de seu meio, por sua perseverança, seu empenho no trabalho sério e seu coração que sempre encontra tempo para estar perto do Criador. A verdadeira Fama é aquela nutritiva, que traz benefícios a quem a possui e a todas as pessoas que a admiram.
Famosa mesmo é a pessoa que nunca mediu conseqüências para implantar a justiça, dividir emoções, expandir a gratidão e fazer do mundo um lugar melhor para todos viverem…
– Não é mesmo?
Então porquê não tomarmos como “base” de Famosos: Irmã Dulce, Madre Teresa de Calcutá, Dra. Zilda Arns, Roberto Carlos, Dr. Zerbini, Betinho, Ayrton Senna, Dorina Nowill, Carmem Prudente, Chitãozinho e Xororó, Viviane Senna, médicos que salvam, mãos que curam, corações que perdoam e amam…