RESUMO
O presente artigo pretende demonstrar as reais características das abordagens qualitativas de pesquisa diante do evidente interesse de pesquisadores da área de educação e mostrar como e quando deve ser feito o uso da pesquisa qualitativa. Definindo pesquisa etnográfica, hipótese naturalística–ecológica, hipótese qualitativo-fenomenológica, estudo de caso naturalístico ou qualitativo.
INTRODUÇÃO
O presente artigo visa demonstrar elementos que possam ser acrescentados ao estudo, considerando o meio em que o problema em questão está inserido, retratar completamente a realidade, utilizar vários tipos de informações e informantes para auxiliar a apresentação de um trabalho de pesquisa com vários pontos de vista.
OBJETIVO
O presente artigo tem por objetivo apresentar as características básicas sobre abordagens qualitativas e quando é ou não adequado utilizá-las dentro de bases científicas durante a investigação.
REVISÃO DE LITERATURA
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento, supondo um contato direto e prolongado do mesmo com o ambiente e a situação que está sendo investigada, normalmente por meio de um trabalho de campo. Caso seja o tema da pesquisa, indisciplina escolar, o agente pesquisador deverá presenciar o maior número de situações que possam sugerir a manifestação deste fato, não possuindo nenhum tipo de manipulação por parte dele. Na observação dos fenômenos que ocorrem naturalmente, passíveis de influência em seu contexto, ele deve manter um contato estreito e direto com a situação, mantendo a originalidade e contexto das pessoas, gestos e palavras estudadas.
Os dados coletados são predominantemente descritivos, levando em conta o fato de que o material obtido nestas pesquisas é predominante em descrições de pessoas, situações, fatos; inclui transcrições de entrevistas e de depoimentos assim como fotografias, desenhos e extratos de diversos modelos de documentos. Comumente são usadas para subsidiar afirmações, depoimentos, que também possam justificar pontos de vista. Mesmo as questões mais simples devem ser sistematicamente investigadas.
O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador, sendo que, neste estudo, sempre existe a pretensão de capturar a “perspectiva dos participantes”, sua maneira de ser informante e como vêem as questões que estão sendo focalizadas. A análise de dados tende a seguir um processo indutivo, no qual os pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início dos estudos, sendo que as abstrações se formam a partir da inspeção dos dados do processo. A inexistência de hipóteses ou questões específicas formuladas a princípio não implica na ausência de um quadro teórico que oriente a coleta e a análise dos dados.
Diante destas características, pesquisadores deram início a novas técnicas que originaram a pesquisa antropológica ou etnográfica. Para se caracterizar um estudo etnográfico, é importante analisar se a pessoa que está lendo este estudo consegue interpretar o que ocorre no grupo como se realmente fosse um membro do mesmo. Como pressuposto, a pesquisa etnográfica é fundamentada sob o aspecto de dois conjuntos de hipóteses dentro do comportamento humano: a naturalista-ecológica, na qual o comportamento humano é influenciado pelo contexto em que se situa; e a qualitativo-fenomenológica, que determina a impossibilidade do entendimento do comportamento humano sem a tentativa de compreender o quadro referencial dentro do qual as pessoas interpretam seus pensamentos, ações e sentimentos. As principais características do observador são: capacidade de tolerar ambigüidades; capacidade de trabalhar só sua própria responsabilidade; inspirar confiança; ser comprometido; autodisciplina; sensível a si e aos outros e sigiloso com informações confidenciais.
No tocante ao método, a própria natureza dos problemas é que determina, fazendo-se a escolha em função do tipo de problema estudado, o pesquisador investiga as etapas de exploração, decisão e descoberta. O desenvolvimento do estudo de caso possui três fases: a primeira, aberta ou exploratória; a segunda, mais sistemática e, a terceira, analítica e interpretativa sistemática dos dados e na elaboração do relatório.
METODOLOGIA
De maneira experimental, propomos que a abordagem para a pesquisa qualitativa deva ser usada quando se desejar entender detalhadamente por que um indivíduo faz determinada coisa. Também para identificar a extensão total de respostas ou opiniões que existam em um mercado ou população, heterogênea de preferência.
A pesquisa qualitativa revela áreas de consenso (positivos ou negativos) nos padrões de respostas. Ela determina quais idéias geram uma forte reação emocional. Além disso, é útil em situações que envolvam o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas idéias.
Em estudo de um pesquisador americano foi analisada a situação da pesquisa em educação nas universidades em seu país, onde ele apontou a atração exercida pelo sucesso da lógica racional das áreas ditas científicas, sobre os pesquisadores de educação. Para assegurar êxito na carreira universitária, os pesquisadores estariam se deixando atrair por tal lógica em detrimento do uso de recursos mais apropriados ao tipo de problemas trabalhados pela pesquisa em educação. Esses problemas, ligados às escolas do ensino fundamental e médio, cederiam lugar aos pseudoproblemas ajustáveis às metodologias próprias das áreas científicas, garantindo ao seu investigador, o mérito conferido pelo trabalho considerado como verdadeiramente científico.
O atual ensino médio brasileiro, antigo ensino de segundo grau, ora visado por uma proposta do MEC, assim como os ligados a aspectos específicos da valorização da carreira do magistério, também deva ser objeto da pesquisa, ora em questão.
Ainda no âmbito das políticas governamentais, considero importante registrar a quase total ausência da comunidade de pesquisadores, nas questões fundamentais de educação, como a já mencionada estratégia de avaliação das escolas do ensino fundamental, por meio das provas aplicadas a seus alunos (SAEB) e a muito debatida questão do chamado “provão”, que avalia as Instituições de Educação Superior (IES). Em ambos os casos, não se constatou contribuição efetiva por parte da universidade e de seus pesquisadores. Como saldo negativo a transformação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), instituição historicamente dedicada à pesquisa educacional, hoje transformada em simples departamento da Secretaria de Informações e Avaliação em Educação (SEDIAE), órgão do MEC para captação de informações e elaboração de testes na área da educação.
Ao focalizar a socialização profissional de professores na pesquisa que estou desenvolvendo, entrei em contato com uma bibliografia que discute a dimensão de pesquisa na formação e no trabalho do professor. Um número considerável de autores, como D. Shön, H. Giroux, M. Apple, J. Elliott, M. Young, T. Popkewitz, A. Nóvoa, K. Zeichner e outros têm afirmado a importância da pesquisa junto ao professor da educação básica de maneira integrada ao seu trabalho na escola, dentro de um processo de ação e reflexão.
Sugiro indicar uma proposta de pesquisa visando estudar essa atividade no cotidiano do professor do ensino fundamental, fazendo uma oportuna discussão das vantagens e das exigências ligadas à introdução da pesquisa no trabalho do professor desse nível.
RESULTADOS
Como resultado, teríamos pesquisadores de fora da escola, principalmente da universidade, aproximando-se do professor-pesquisador para ajudá-lo com sugestões de análises teóricas pertinentes. Para romper com a lógica da pesquisa tradicional, que não questionava as condições contextuais de valores e objetivos propostos de cima para o trabalho docente e a pesquisa nas escolas, atuando também na recomendação de Kincheloe, na qual a inspiração de orientações alternativas de pesquisa deva vir também de movimentos de mulheres, ou grupos de etnias e culturas específicas, que possam alertar o professor para outras realidades e para o questionamento do “status quo”. Com o esforço do professor das escolas fundamentais, promovendo a pesquisa em educação para dar o salto sobre o “gap” que separa a universidade e as escolas, respondendo assim às reais necessidades que estão à espera de soluções na educação básica.
O modelo atual em questão, teve como descoberta de que mais de um terço (35%) dos analfabetos brasileiros com mais de 15 anos já freqüentou, alguma vez na vida, uma escola. Segundo esses dados (IBGE – 2001), o Brasil tem 15 milhões de analfabetos com mais de 15 anos. Se a experiência escolar desses analfabetos tivesse sido bem-sucedida no seu rudimento mais elementar (aprender a ler e escrever), o país teria 5 milhões a menos de analfabetos e a taxa de analfabetismo cairia de 12,4% para 8%. Outro estudo (Ação Educativa – ONG) mostra também que uma parcela significativa (37%) dos trabalhadores brasileiros não precisa ler para executar suas funções, o que indica que os profissionais com pouca qualificação têm mais dificuldade para aplicar o conhecimento adquirido com a alfabetização em seu cotidiano.
CONCLUSÃO
Vários problemas se interpõem no encaminhamento dessa empreitada. A própria noção de pesquisa é bastante comprometida com uma conotação muito ligada à tradicional concepção de construção do conhecimento científico. A preparação do futuro pesquisador, formalmente ligada na universidade aos programas de mestrado e doutorado, é hoje também vigorosamente assumida pelo Programa de Iniciação Científica (IC) na graduação, sob iniciativa do CNPq, com resultados muito positivos.
E a preparação do professor das escolas fundamentais para a pesquisa, como fica? Quais os estímulos, os recursos e as dificuldades que ele encontra nesse eventual trabalho? Espero oferecer alguma contribuição para a discussão dessas questões com o desenvolvimento da pesquisa proposta. Não tenho dúvidas que a dimensão de pesquisa, uma vez superados os vários obstáculos em seu caminho, viria conferir ao professor um poderoso veículo para exercício de uma atividade criativa e crítica, ao mesmo tempo questionando e propondo soluções para os problemas vindos do interior da escola e de fora dela. Espero que isso venha a acontecer em futuro não muito longínquo e que a pesquisa não corra o risco de ver substituído seu valor de uso, na escola, pelo valor de troca na carreira do professor…
BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KINCHELOE, J. L. Teachers as researchers: qualitative inquiry as path to empowerment. London, Falmer Press, 1993.
LÜDKE, Menga. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas – 6ª impressão. EPU, 2003.
MOREIRA, Marco Antônio. Pesquisa em ensino: o vê epistemológico de Gowin. São Paulo, EPU, 2002 – cia Editora Nacional, 1968.
BARBIER, R. A pesquisa – ação na instituição educativa. Rio de Janeiro, Zahar, 1985.
Manual do aluno da ADAM SMITH UNIVERSITY/USA.
GOIS Antônio. Jornal Folha de São Paulo – dezembro de 2003.
SE&PQ – Sociedade de Estudos e Pesquisa Qualitativos – Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas, com ênfase na educação – site: www.spq.org.br
ETHOS – Instituto de Pesquisas Avançadas – site: www.ethos.com.br