Tenho três gerações em minha casa, Arthur com 4 anos, Breno com 9 e Ygor com 20, haja conversa com meus amigos Içami Tiba e Dra. Ana Maria Caramujo, para administrar tanta ideologia partidária e “comportamentária”.
Dia de futebol, Breno quer ir ao Morumbi, Ygor avaliza, mas Arthur ainda é pequeno, então lá vamos nós. Breno um São Paulino, Ygor e eu Palmeirense, fazendo a vontade de Breno, em sua primeira ida ao estádio do Morumbi. Foi dolorido, mas por amor ao filho e irmão vale tudo: decidiu-se ficar na torcida do São Paulo.
Um palmeirense como eu na torcida do São Paulo, haja sentimento de amor pelo filho… Ali totalmente inativo entre milhares de São Paulinos, que xingam meu glorioso time de todos os tipos de adjetivos faláveis e não faláveis e até inconfessáveis em qualquer penitência católica… E o Breno na onda, imagine só… Meu próprio filho adjetivando o time de seu próprio pai.
Ygor não resiste e dá uma escapada para torcida do verdão, minha vontade era a mesma, mas era a primeira ida de Breno ao estádio, ele tinha de ter uma boa experiência ao torcer pelo seu time.
Mas como eu tinha certeza de uma vitória do verdão, estava tranqüilo, só esperando o primeiro gol do Palmeiras.
Porém… o primeiro gol quem marca é o goleiro Rogério Ceni, numa cobrança de pênalti, discutível evidentemente, afinal o juiz estava muito fora do lance, mas como eu nunca vi ninguém poupar mãe de juiz em futebol e nem mesmo juiz voltar atrás com pênalti, lá foi Rogério Ceni, num bico ao fundo da rede.
O estádio tremia, tremia, mas tremia mesmo ao entusiasmo do torcida tricolor paulista… Bela obra de engenharia este estádio, para resistir a tanta energia, embora fique para mim a dúvida se aquele gol fosse do Palmeiras, se a estrutura do estádio iria resistir, seria um perigo o Palmeiras marcar o primeiro gol naquele dia, com o estádio lotado…
Breno vibra, pula, grita… Eu e Ygor olhamos um para o outro em tom de vamos fazer o que?
O jogo termina, com a “injusta” vitória do São Paulo, embora ele tenha sido superior em campo e muito mais rápido que o Palmeiras, que naquele dia de garoa não teve muita sorte, São Paulo 2 x Palmeiras 0.
O estádio parecia vir abaixo no segundo gol, tive de segurar engasgado a fúria são-paulina bradando: “e-liminado, e-liminado”… e fomos mesmo.
Breno em sua menoridade não deixou barato nem ao pai nem ao irmão, gozação neles. Breno não levou em conta nem os limites e negociações diárias da figura paterna, foi impiedoso… E cheio de razão.
As diferenças na vida começam em casa, entre marido e mulher que sentem atração por coisas diferentes e discutem no puxa-puxa cada um para seu lado, entre filhos, em minha casa três completamente diferentes um do outro, todos unidos por um único laço, o amor, é o amor unindo diferenças nas idéias; nos sentimentos; nas decisões; nas escolhas e nas atitudes.
O amor tem este poder, talvez seja esta a razão de muitos espiritualistas ao longo da história verem no amor a grande possibilidade de paz entre as pessoas.
Embora minha torcida em casa seja bem diferente, e esta coisa de São Paulo vem em função da Thais, que exerce forte influência sobre o Breno, mas Arthur será salvo pela tendência verde do Palmeiras, deixamos que o amor nos leve e as diferenças terminam em alegria.
Talvez a melhor maneira de manter as diferenças em nossas vidas e mesmo assim conviver harmoniosamente, seja fazer valer o respeito pelas escolhas da outra pessoa. O comportamento de se achar que se descobriu o melhor e tentar convencer outros de que seu melhor é o melhor para eles, seja a causa de tantas adversidades nos relacionamentos amorosos, profissionais e religiosos.
Quando despertar a consciência de que seu melhor é o seu melhor e o melhor do outro é o melhor do outro, tudo poderá seguir caminhos paralelos e cruzar-se vez ou outra, criando lampejos de conscientização entre as partes. A conscientização vem por lampejos e não por fachos de luz e pode começar nas diferenças que temos em nossa própria casa.
Aliás, em breve estarei fazendo outro artigo sobre o assunto, mas estarei narrando a vitória do Palmeiras.