PESSOAS PÁGINAS AMARELAS

Em meus contatos, com o público de meus livros e palestras, muitas vezes fico impressionado com o número de correspondências que recebo de pessoas que dizem, mais ou menos, o seguinte:
“Procuro ser uma pessoa legal, ajudar a todos, quero o bem de todos… Basta alguém me dizer que tem um problema e lá vou eu em seu socorro… Se alguém me diz que precisa consertar seu carro, sou capaz de caçar o melhor mecânico do mercado e indicar-lhe… Estou sempre de prontidão para ajudar… Porém, as coisas não andam bem para mim… Puxa, mas eu sou tão legal com os outros…”.
Eis aí as pessoas que chamo de páginas amarelas…
São uns verdadeiros catálogos de socorro profissional, pessoal e emocional, os muros de lamentação do mundo…
Uma turma muito legal, sempre pronta a ajudar. Mas de tanto dar esquecem de receber, até mesmo os outros acham que elas não precisam de nada, que só têm para dar, então o povo toma mesmo.
A energia destas pessoas é algo muito especial, mas com o passar do tempo vão sofrendo a síndrome do abandono de suas próprias vidas. Nos casais, por exemplo, quando um deles é página amarela, o outro sofre e as coisas vão ficando piores a cada dia. Muitas vezes estas pessoas, aos olhos da cara metade, parecem fazer mais pelos outros do que pela sua própria “tampa da panela”.
A coisa pega… E como pega… Brigas por detalhes, discussões por nada e o que é ainda pior: sempre ouve a alegação de que, para os outros, faz tudo e para quem está próximo nada. Do tipo: “para os estranhos você sempre ajuda e para os parentes você nem quer saber”.
Dentro das organizações existem muitos profissionais páginas amarelas: estão sempre colaborando com o sucesso dos outros e, na hora das promoções, terminam ficando para trás, mas continuam felizes, por verem um colega se dar bem. Com o passar do tempo este profissional vê muitos irem á frente, mas ele mesmo ficou.
Pessoas boas, pessoas especiais estes páginas amarelas, mas terminam por ter um tratamento que não é compatível com aquilo que investiram em suas amizades, em seus relacionamentos.
Ser o orelhão do pedaço, aonde todos vêm e despejam noticias, reclamações e até fofocas, faz bem para quem descarrega, mas para quem recebe, haja coração…
Estas pessoas são como porção de arroz em restaurante, o arroz está sempre ali, em todas mesas, sempre acompanhando todos os pratos, mas ninguém come.
– Será que vale a pena ser o SOS da sociedade?
Evidente que devemos disseminar o bem, pois somente o bem sempre encontra um caminho, mas não se deve esquecer de si.
Muitas vezes o ímpio de uma ajuda constante aos outros é uma forma de ocultar problemas próprios ou até fugir deles, a todo instante.
Quando se foge de seus problemas, de alguma maneira, a fuga pode dar certo por um tempo, mas não dará certo o tempo todo. Na ciranda deste caminho o círculo um dia vai se fechar exatamente onde começou.
Quando pingar uma dose de ajuda em alguém não esqueça de pingar duas doses de ajuda em você.
Ajudar faz com que nos sintamos vivos, úteis e socializados, mas cuidado para não deixarmos esta ajuda ser um agente de fuga e sim um sentimento vindo de seu coração.
Pessoas páginas amarelas são folheadas por qualquer uma que chegue perto, afinal elas têm a solução para tudo…
Seja uma pessoa boa com outras pessoas, mas seja melhor ainda com você.

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