Em épocas de vestibular, cerca de 1,8 milhão de jovens vão escolher uma profissão e dar arrepios no mercado, ou ficarem arrepiados, dando assim o primeiro empurrão rumo a uma vaga nas faculdades. Apesar de fazerem o exame, a dúvida é presente até o último segundo: dois entre três vestibulandos ainda têm dúvida. Muitos terminam por se inscreverem em cursos diferentes, em várias entidades, deixando a sorte dar a última palavra.
Com 17 ou 18 anos de idade, este é certamente um momento de tomar uma decisão difícil.
Grande parte desses jovens, recém-saídos da adolescência, ainda precisa de segurança emocional e vivência.
Tem sido assim.
Porém, nestes últimos anos, promover esta decisão vem ficando mais difícil por várias razões.
Uma das maiores é que o número de cursos oferecidos, por exemplo, aumentou muito.
Em meados dos anos 70, as opções não eram muitas.
Aqueles que queriam ciências exatas iam para engenharia ou arquitetura; a turma da biologia optava entre medicina e odontologia; e, em humanas, tinha a opção de seguir direito, economia, jornalismo ou pedagogia.
Atualmente as 1.705 instituições de ensino superior, registradas no MEC, oferecem 350 cursos – de comércio exterior a quiroprática; de gastronomia a design de games; de enologia a citologia, e já se fala em curso de… Bem, é melhor deixar para lá!
Mesmo assim, a possibilidade de emprego em qualquer uma dessas opções que o candidato faça não é lá das melhores.
De acordo com levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), 31% dos jovens entre 18 e 24 anos estão procurando uma vaga.
Há dois anos esse índice era de 25%. Se, já não bastassem as diversas opções, tamanha incerteza leva 70% deles a escolher as carreiras mais tradicionais.
O alto índice de evasão – 56% – é determinado tanto pelo valor das mensalidades como pela decepção com o curso.
Aí eu pergunto:
– Será que, nessa idade, o jovem quer realmente saber de responsabilidade?
Sem contar com, a pressão da família, que acirra as dúvidas cruéis.
Talvez ele queira mesmo, nessa fase, apenas e tão somente, curtir a vida.
Como hoje o adolescente deixa a casa dos pais cada vez mais tarde, pode dar-se a possibilidade de trocar de faculdade duas, três vezes.
Uma pesquisa realizada em escolas particulares de Curitiba identificou as carreiras que os pais gostariam de que os filhos abraçassem:
As preferidas dos pais |
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Pesquisa mostra as profissões dos sonhos das famílias. São poucos os que não interferem, deixando a decisão para o filho – em % |
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Médico |
34 |
Advogado |
17 |
Engenheiro |
12 |
Empresário |
8 |
Dentista |
5 |
Informática |
4 |
Professor |
3 |
O que o filho quiser |
2 |
Fonte: Instituto Paraná de Pesquisas |
Em apenas 2% dos casos os pais apontaram como preferida àquela que seria a preferida do filho – todos os pais sonham com um herdeiro médico, advogado ou administrador de empresas.
Talvez o jovem devesse ouvir mais a si mesmo.
Àqueles que ainda não fizeram sua escolha, sugiro que iniciem riscando da lista de preferências aquelas opções das quais não gosta.
A opção deve ser resultado do somatório: sentimento + razão.
O caminho de um ano de cursinho ou viajar para fora pode ser um interessante fator para obter um tempo para reflexão.
Não se deve escolher uma profissão porque se tem facilidade para algumas matérias na escola.
A vida profissional é muito diferente de vida de estudante.
Cuidado também ao descartar aquela que está sobrando por aí e optar pela que está na moda. O mercado atualmente é muito dinâmico e, em poucos anos, a realidade poderá ser totalmente diferente.
Aqueles que gostam e se dedicam ao que fazem, sempre conseguem destaque, em um mercado que transborda a cada ano novos bacharéis, se tiverem visão sistêmica e forem criativos, acertando assim seu campo para crescer.
Vale lembrar que, talvez nenhuma escola seja para sempre, além da chance de mudar, existe a de exercer atividades diferentes depois da graduação.
Se a escolha não for um curso muito especializado, como fonoaudiologia ou fisioterapia, a passagem é tranqüila. Tem engenheiro trabalhando com administração de empresas, antropólogo em publicidade, professor em turismo… As profissões também se fundem. Quem fez Direito e se interessa por meio ambiente pode trabalhar com Direito Ambiental e como as antigas piadas da era do desemprego, tem muito diplomado no circo vestindo fantasia de leão.
Os orientadores educacionais citam três pontos que ajudam a tomar uma decisão. O primeiro passo é descobrir as áreas de que mais se gosta, listar suas inclinações pessoais e o que espera para o futuro. Quem quer ter qualidade de vida não pode sonhar em ser executivo numa empresa que exige dedicação total ao trabalho. Para quem não tem jeito com números, biologia pode não ser tão atraente, já que há uma clara tendência da utilização da matemática na área.
Todo jovem deve conhecer a fundo as profissões: as habilidades exigidas e como é o dia-a-dia do profissional da área escolhida. Conversar com quem trabalha na área ajuda. É fundamental derrubar certos paradigmas. Quem escolhe Direito porque sonha em fazer justiça vai se frustrar, eu mesmo tive esta experiência. Descobri que nem tudo em Direito é justo e nem tudo que é justo é de direito, porque o advogado tem de adaptar as necessidades de seu cliente às leis. Quem quer ser médico para cuidar dos outros terá de fazê-lo naqueles minutos de consulta que o plano de saúde paga…
É importante considerar o futuro de cada carreira. Há mudanças de curso inesperadas. Há dez anos, ninguém diria que biologia e matemática seriam atividades promissoras. No caminho inverso, economia e física perderam espaço. Sem ficar na futurologia, uma análise cuidadosa dos setores em expansão ajuda na escolha. É importante também salientar que o diploma não faz mais “aquela” diferença no mercado de trabalho. Antigamente ele era garantia de emprego, principalmente se obtido em universidades de prestígio. Hoje, mesmo carimbado por escolas de griffe, ele representa apenas um dos requisitos mínimos na disputa por uma vaga. Houve um tempo em que as empresas só selecionavam universitários de determinadas instituições para entrevistas. Agora, estão mais abertas porque enfrentam dificuldades para encontrar o estudante com o perfil desejado. Valorizam-se características como criatividade, iniciativa, liderança, comunicação e, principalmente, capacidade para enxergar e resolver problemas.
Talvez por essas razões que, no ano passado, 180 mil jovens não tenham conseguido ocupar 872 vagas de estágio e de trainee oferecidas por grandes empresas.
É verdade que a maioria foi descartada por falhas no currículo como a falta de domínio da língua inglesa, conhecimentos de informática e base escolar fraca. Mas uma boa parte foi eliminada por características pessoais.
A revista ÉPOCA, fonte da pesquisa deste artigo, publicou o resultado de uma pesquisa com 3.200 alunos e 38 empresas feita pela SSJ com a Companhia de Talentos, consultoria que coordena programas de trainees para grandes empresas brasileiras. Nela, fica claro que a visão do empresário e a dos universitários sobre a “empregabilidade” de cada um são bastante diferentes. Não adianta ter apenas uma formação acadêmica de primeira linha, estudar no Exterior e voltar sem saber o que fazer com tudo o que aprendeu. É fundamental fazer estágios, trabalhar em ONGs, enfim, ter um pouco de prática.
Porque o primeiro emprego é difícil? |
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Consultoria perguntou a empregadores e candidatos quais fatores atrapalham a contratação de um recém-formado. O resultado mostrou que os jovens pensam que são recusados por falta de experiência, mas o problema costuma ser de personalidade ou formação. |
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Visão dos jovens |
Visão dos empresários |
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Falta de experiência profissional |
1 |
Características pessoais, como insegurança |
Poucas vagas |
2 |
Curso universitário fraco |
Conhecimento insuficiente de idiomas |
3 |
Poucas vagas |
Curso universitário fraco |
4 |
Conhecimento insuficiente de idiomas |
Conhecimento técnico insuficiente |
5 |
Falta de identificação com a profissão |
Governo não incentiva abertura de negócios |
6 |
Universidade está descolada da realidade |
Competição globalizada |
7 |
Falta de conhecimento técnico |
Universidade está descolada da realidade |
8 |
Falta de experiência profissional |
Características pessoais, como insegurança |
9 |
Necessidade de mão-de-obra diferenciada |
Necessidade de mão-de-obra diferenciada |
10 |
Competição globalizada |
Fonte: Grupo CM/Consultoria de Pesquisas Educacionais |