QUALIDADE TOTAL E QUALIDADE DE VIDA

RESUMO

O presente artigo pretende demonstrar que o caminho de se atingir o processo de Qualidade Total, dentro dos conceitos organizacionais, tem de estar unificado com uma expansão fora dos limites das organizações, refletindo também no impacto causado nas pessoas, na intenção de não abalar a oportunidade das mesmas terem, em seus convívios sociais e familiares, um estilo de comportamento que possa tirar, de seus hábitos e atitudes, atuações que lhes permitam obter Qualidade de Vida.

INTRODUÇÃO

O presente artigo visa demonstrar a importância das empresas expandirem seus processos de Qualidade Total sem que estes tenham efeitos anuladores na vida de seus colaboradores.

OBJETIVO

O presente artigo tem por objetivo sugerir a inclusão de processos de Qualidade Total também focados na vida pessoal do colaborador dentro das organizações, fazendo dele uma parte integrante do contexto de desenvolvimento técnico e, principalmente. humanizado em sua atuação social e familiar.

REVISÃO DE LITERATURA

Vivemos um tempo de busca por melhorias contínuas, vivenciando uma revolução dos processos de serviços, fabricação e relacionamentos com o mercado. Processos que colocam as ações num sistema de metodologia aplicada que busca melhores resultados em todo seu contexto de atuação.

Japoneses implantando o Kaizen, melhoria contínua, na crença em que tudo que já foi feito pode ser melhorado. Outros processos normativos como ISO, acompanhando e registrando processos, na certeza de que tudo pode ser controlado para evitar uma qualidade não desejada.

Numa economia onde os produtos se assemelham em modelos, funcionamento e custos, acreditam os especialistas, a competitividade fica na esfera da Qualidade. E é nela que as organizações e pessoas estão focando, cada vez mais, suas estratégias.

O processo de Qualidade Total é construído por metodologia científica, porém aplicável pela atuação de pessoas. Afinal, são pessoas que implementam estas técnicas e dão a elas a estrutura de funcionamento e resultados.

Nasce deste contexto a economia emergente baseada na Qualidade Total, oferecendo oportunidades sem precedentes, possibilidades cada vez maiores de se fazer negócios, produtos extremamente interessantes, ótimos investimentos e excelentes empregos para aqueles com talento e habilidades. Para conseguir sobreviver, todas as organizações devem se aperfeiçoar de forma intensa e contínua em seus processos de Qualidade Total, pois a busca do mercado é por produtos melhores, mais rápidos, mais baratos e uma ampla oferta de serviços de toda ordem.

Em termos econômicos, tudo isso foi criado para nos beneficiar. Mas o que isso significa para os outros aspectos de nossas vidas, aqueles que dependem de relacionamentos sólidos, continuidade e estabilidade, ainda é uma questão seriamente problemática. Não há uma conspiração diabólica ou alguma armadilha astuciosa preparada por corporações mal-intencionadas ou capitalistas gananciosos, é uma questão puramente lógica.

As recompensas desta economia baseada em Qualidade Total têm um custo: nossas vidas estão mais agitadas, menos seguras, economicamente mais divergentes e socialmente mais estratificadas. Por essas razões, a maioria de nós tem trabalhado mais árdua e intensamente que há algumas décadas.

Segundo pesquisa da Organização Internacional do Trabalho das Nações Unidas, um casal americano de renda média com filhos trabalhou 3918 horas, cerca de sete semanas mais que há dez anos, mais que os japoneses!

Por mais maravilhas que essa economia baseada em Qualidade Total possa ser, por causa dela, estamos perdendo partes importantes de nossas vidas – aspectos de nossa vida familiar, de nossas amizades, de nossas comunidades e de nós mesmos. Essas perdas praticamente anulam os benefícios que estamos recebendo deste processo.

METODOLOGIA

De maneira experimental, propomos que as organizações instituam e promovam, em seus processos de qualidade total dispositivos que não permitam a expansão de tais regras normativas para a vida pessoal dos colaboradores, evitando que as pessoas se tornem viciadas em trabalho, assim como dispositivos que promovam aplicação de condutas que possam instruir e induzir os colaboradores a conquistarem uma atuação também voltada para sua qualidade de vida.

A efetivação desta ação teria de ser mantida através de constante manutenção de programas com conteúdo voltado ao aumento da Qualidade de Vida dos colaboradores, não somente na organização como também em sua vida pessoal.

Programas que, assim como as metodologias aplicadas nos processos normativos de produção, visem enaltecer o produto ou serviço, também com técnicas para manter em nível superlativo o processo de Qualidade de Vida de seus colaboradores.

Faz-se necessário então um modelo de acompanhamento metodológico, onde se possa aferir como está a atuação de seu colaborador junto aos requisitos essenciais para pertencer ao gráfico de pessoas que estão atuando no trabalho e não permitindo que o trabalho atue nelas. Um acompanhamento metodológico, que possa indicar o momento certo de se tomar atitudes em benefício da saúde física, mental e emocional de seus colaboradores.

Incentivar avaliações com estratégias de vida que possam compreender, por parte de seus colaboradores, a dedicação aos princípios que compõem o bem-estar humano dentro da sociedade, sem submetê-los a lesões sociais ou organizacionais.

A começar pelas entrevistas de emprego, nas quais muitas delas estão conduzindo pessoas que não conseguiram a vaga para um divã de psicólogos, pela violência emocional de suas dinâmicas comportamentais elaboradas exclusivamente no princípio de uma função, sem levar em conta que uma pessoa é quem vai ocupar esta função, e ainda totalmente voltadas para as necessidades da empresa e muito pouco no quanto ela pode influenciar no desenvolvimento de quem ela recruta.

Funções que afastam as pessoas de sua família, de seus valores, crenças e atitudes, são funções dizimadoras da Qualidade de Vida.

A inserção de conceitos relacionados à Qualidade de Vida, juntamente com a Missão de Qualidade Total, deve ser primordial no processo de certificação normativa, introduzindo assim um sistema de Qualidade Humanizador.

Mais que gostarem da organização, as pessoas têm de ser direcionadas a gostarem daquilo que fazem na empresa; isto é uma reinvenção do trabalho, a criação de um futuro organizacional sem vítimas sociais.

RESULTADOS

Como resultado, as organizações promoverão uma integração ampliada e com perspectivas de gerar uma tendência a um novo estilo de produção dentro da economia e nos processos metodológicos de Qualidade.

Será gerado, no final deste processo, um tempo livre que deverá ser dedicado à própria pessoa, ao cuidado com o seu corpo e sua mente; uma outra parte deverá ser dedicada à família e aos amigos, devendo também dedicar uma terceira parte à coletividade, contribuindo para a sua organização civil e política, pois cada pessoa deve dosar estas três partes em medidas adequadas de acordo com a sua vocação pessoal e a sua situação concreta, tendo como instrumento possibilitador destas ações a organização em que trabalha.

O nível de estresse nas organizações terá redução em seus índices, ocasionando um reflexo positivo no desempenho dos profissionais, que podem gerar resultados mais promissores às metas econômicas da empresa. Como variante, ainda se poderá desfrutar de um ambiente nutritivo para induzir em idéias ainda mais criativas e estimulantes, levando em conta a posição sadia que as pessoas estão cultivando. Ainda haveria uma baixa na visita de colaboradores a médicos e assistências comportamentais.

Este ambiente de Qualidade Total, em convergência com o ambiente de Qualidade de Vida, encontraria eco maior ainda na família que, ao invés de ver o trabalho do pai ou da mãe como algo que atrapalhe o relacionamento, veria nele um meio de realizar seu objetivo de vida.

CONCLUSÃO

O grande dilema do homem é encontrar sua verdadeira origem, valores que lhe dêem serenidade de poder viver no meio das atribulações diárias, sabendo que tem uma razão de vida. Por isso o número de programas de qualidade de vida nas empresas tem aumentado em todo o país. As empresas e os trabalhadores têm valorizado as ações que melhoram a qualidade de vida e o equilíbrio entre vida pessoal e o trabalho. Na 7ª edição do Guia Exame – As Melhores Empresas para Você Trabalhar, constatou-se que quatro de cada dez profissionais escolheram a possibilidade de ter qualidade de vida como a melhor característica do seu trabalho atual.

Mas qual seria o perfil ideal do gestor em qualidade de vida? De acordo com a proposta de Donald Ardell apresentada na 19th National Wellness Conference em 2003, ele se constituiria nos seguintes elementos: (1) um forte senso de responsabilidade pessoal; (2) um estilo de vida saudável (uma combinação disciplinada de atividade física moderada/vigorosa e uma alimentação equilibrada); (3) uma visão positiva e prazer em viver; (4) abertura para novas descobertas sobre os significados e os propósitos da vida; (5) capacidade e interesse pelo pensamento crítico.

Como está a qualidade de vida dos profissionais ligados aos programas de qualidade de vida? Uma amostra desta realidade pôde ser constatada por uma pesquisa realizada com empresas associadas à Associação Brasileira de Qualidade de Vida, por Bramante (2004), que constatou que mais de 60% dos gestores de programas de qualidade de vida trabalham mais que 12 horas por dia. Além disso, quase 60% destes profissionais relataram ter menos de 6 horas de lazer por semana.

BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERONI, Francesco. Valores. Editora Rocco, 2000.

CHOPRA, Deepak. Torne-se mais jovem, viva por mais tempo. Editora Rocco, 2001.

DE MASI, Domenico. O ócio criativo. Editora Sextante, 2000.

GRIFO, Equipe. Iniciando os conceitos de qualidade total. Editora Thomson Pioneira.

MARTINS, Ives Gandra da Silva. A era das contradições, desafios para o novo milênio. Editora Futura, 2000.

McGRAW, Phillip C. Estratégias de vida. Editora Alegro, 1999.

OGATA, Alberto. Artigo – Mestrado em Economia da Saúde pela USP, Vice Presidente da ABQV.

PETERS, Tom. Série reinventando o trabalho. Editora Campus, 1999.

REICH, Robert B. O futuro do sucesso. Editora Manole, 2000.

ROKEACH, Milton. Crenças, atitudes e valores. Editora Interciência,1981.

Internet/WWW – www.abvq.org.br – Site da Associação Brasileira de Qualidade de Vida.

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