LEMBRANÇA DE UMA AMIZADE

Na vida existe aquele momento em que precisamos de uma pequena mão amiga para nos auxiliar a dar um passo importante por terrenos onde não sabemos o que nos espera. Na maioria das vezes somos pequenos demais para pedir auxílio a alguém que já está no topo, e esta pessoa talvez nem note a nossa presença, ou, por padrão, envia uma uma mensagem escrita pela secretária, só para se livrar do assunto.
Eu estava no início de minha carreira literária, havia escrito um livro que fora um tremendo fracasso – Reduto de Paz – pela Editora Pannartz, mas estava empenhado numa segunda tentativa, o livro Quebrando a Redoma, também pela Editora Pannartz, em 1985.
Pensei em pedir para alguém importante, influente, formador de opinião, íntegro e famoso fazer o prefácio do livro… mas quem? Eu não tinha amigos com essas características nessa época.
Numa noite, fui ao lançamento, na Avenida Paulista, do livro “Prefiro Estar Certo”, de José Papa Junior, Editora Nobel, membro de uma das famílias com maior projeção na sociedade brasileira. Conhecido como Zizinho, comandou a Federação de Comércio de São Paulo de 1969 a 1984, candidatou-se a senador pelo PDS e foi cotado para vice-presidente de Fernando Collor.
Quando me aproximei, senti um impulso de solicitar a ele que prefaciasse meu livro. Ele nem me conhecia direito, mas com aquela fila imensa que circulava o prédio da Federação de Comércio de São Paulo, onde se podiam encontrar as maiores personalidades deste país, Zizinho gentilmente autografou meu livro, ouviu meu arriscado pedido e, com muita atenção, olhando em meus olhos, respondeu: “Aqui está meu endereço. Me envie os originais do livro, vou ler e farei o prefácio”.
Ninguém acreditou nisso, nem meu editor, que achou que deveríamos imprimir o livro e pronto. Ele imaginava,  assim como outras pessoas, que aquela resposta tinha sido por educação, e que mesmo que eu enviasse o livro viria algum retorno do gênero: “Lamento, mas por razões… desejo sucesso”.
Não foi assim que aconteceu. Zizinho recebeu os originais do livro, leu e enviou uma carta-resposta com a autorização de publicação do prefácio que elaborou.
José Papa Júnior prefaciou meu livro assim:
Não sou crítico literário.  Não me atreveria a comentar, como tal, o livro de Cesar Romão. Prefiro falar dele como leitor, como homem de alguma sensibilidade, se bem que sem nenhuma especialização no gênero poético.
Quebrando a Redoma me tocou. Não é desses livros que nos deixam indiferentes, que percorremos pulando as páginas e no fim esquecemos tudo. Primeiro fiquei interessado, em seguida comovido. Por quê?
Antes de qualquer coisa, pela evidente honestidade com que o autor escreve. Não percebi subterfúgios, procura de efeitos fáceis.
Cesar Romão diz o que pensa, o que sente. E consegue, a meu ver, esse objetivo primeiro da Arte que é comunicar-se com o leitor.
Uma coisa é certa: estamos diante de um poeta autêntico. Tem ainda muito caminho pela frente, mas a matéria-prima que faz o verdadeiro artista está aqui.
Poeta se nasce. Cesar Romão teve essa felicidade: nasceu poeta. Quebrando a Redoma, para o leitor que eu sou, me pareceu a prova disso. Interessou-me, comoveu-me, fez com que eu desejasse para logo o próximo livro.
Tenho certeza de que será essa a reação de entendidos capazes de formular tecnicamente o que absorvi, digamos, pela pele: a beleza do vocabulário e das imagens, a generosidade humana, a seriedade ao tratar dos temas escolhidos.
Fosse eu um crítico profissional e diria: seja bem-vindo, Cesar Romão, à comunidade dos poetas. O mundo bem que está precisando de jovens como você.
José Papa Júnior
Presidente da Federação de Comércio de São Paulo
São Paulo, 1983
Ali estava eu, um ninguém no universo da literatura, com um livro prefaciado por uma das grandes personalidades do país: a primeira edição de seu livro “Prefiro Estar Certo” esgotou inteira na noite do lançamento.
O que mudou em minha vida literária foi que agora este meu livro não era simplesmente um fracasso como o primeiro. Foi um fracasso como o primeiro, mas com um prefácio de alguém muito, mas muito importante.
Zizinho não imaginava o quanto fora influente sua atitude para mim e minha carreira. No momento daquele prefácio ele me fez pensar que eu não deveria desistir de escrever, pois, se alguém tão especial como ele acreditava em minha escrita, eu ainda tinha uma chance.
Zizinho é um grande homem pelo fato de saber tratar e dar atenção aos pequenos homens e, naquele dia de meu pedido, não havia ninguém tão pequeno naquela gloriosa fila do lançamento do seu livro como eu.
Escrevi um terceiro livro, um fracasso também, só para não perder, talvez, o caminhar da carruagem. Mas sempre encontrava força, para continuar a escrever, no prefácio de Zizinho e nas palavras de meus pais.
Em 1991, lancei o livro A Semente de Deus, que se tornou um dos maiores best sellers do Brasil e conquistou 30 países. Atualmente, são milhões de leitores pelo mundo, inclusive em países como a Rússia, que me escrevem e compartilham meu trabalho literário.
Deus não atende às nossas preces da maneira como solicitamos. Ele tem seu próprio jeito de atender às nossas necessidades, Ele sabe o que realmente precisamos, que nem sempre é aquilo que pedimos.
Zizinho foi um dos sinais que o Grande Arquiteto do Universo colocou em meu caminho para não desistir de escrever meus livros. Aqui fica a verdadeira lembrança de uma amizade.

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