NO BRASIL AS PESSOAS JÁ NASCEM COM PRIORIDADE

As normas de prioridade, no Brasil, logo vão precisar de uma revisão prioritária.

Aqui muita gente é filho de alguém importante e muita gente tem de ouvir: “Você sabe com quem está falando?”, além, é claro, do jargão: “Sou amigo de Fulano de tal”.

Na terra dos lobistas que vendem nomes de pessoas importantes sem ao menos conhecê-las, para obter vantagem, pois a lei da vantagem aqui é a prioridade, há muitas pessoas que pensam mais ou menos assim: “Se eu resolver o meu, que se dane o seu. Se eu parar em fila dupla e pegar meu filho na escola, que se dane a fila dupla; se eu entrar na contramão e ganhar alguns minutos para chegar ao meu destino, que se dane quem eu atrapalhar; se eu furar uma fila para obter atendimento à frente de outros, que se dane quem está esperando há tempo; se der uma roubadinha esperta numa vaga, que se dane que está manobrando para utilizá-la; se eu resolver o meu, que se dane o seu.”

Em terra em que vaga de deficiente físico é ocupada por espertinhos de plantão que não são deficientes, mas compartilham do “se eu resolver o meu que se dane o seu”, a prioridade é reinventar o conceito de prioridade.

Há poucos dias, num shopping em São Paulo, um cidadão, de dentro de seu carro, simplesmente arrancou um cavalete de uma área restrita onde havia uma vaga para deficiente, jogou-o longe com um arremesso, encostou na vaga cantando o pneu e desceu como um leão… sem que tivesse deficiência alguma, talvez só a de consciência. Hoje há mocinhas que vão ao Shopping e levam a vovó, só para ter acesso à vaga de idosos.

Mas algumas das pessoas que conquistaram a prioridade também precisam saber usá-las melhor, como os idosos em fila de banco, por exemplo. Agora eles discutem, se tiver fila no caixa prioritário, com as pessoas que ali estão, mostrando identidade para ver quem é mais velho para ser atendido antes. E quando o banco não tem um atendente no caixa prioritário, eles simplesmente se encostam em quem está sendo atendido, como quem diz: “Saia daí, eu sou prioridade”. Alguns até são contínuos de empresas, que os usam para fugir das longas filas de banco – uma nova categoria de boy, o “idosoboy”. Outros nem são prioridade ainda, mas misturam-se e ninguém arrisca perguntar.

Quem não é idoso, não tem amigo importante ou parente potente, submete-se… apenas.

A prioridade nem precisaria ser regulamentada se as pessoas desenvolvessem uma consciência de respeito, valores, princípios e boas maneiras. É triste conviver com normas em formato de regulamentos quando deveriam ser naturais do comportamento humano, num respeito mútuo de união e convivência pacífica.

Talvez, para algumas pessoas, levar vantagem signifique tentar fugir de sua inferioridade interior, esconder sua total ineficiência de compreensão entre o que é importante para a sociedade e o que é importante somente para elas, enaltecendo uma sensação de ser melhor por fora quando só consegue ser pior por dentro.

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