SAUDADE DO CARTEIRO

Eu me recordo, com saudade, dos tempos em que havia, sobre a minha mesa, um abridor de correspondências e, na mesa de minha secretária, uma coleção de abridores de cartas.
Os envelopes chegavam e as assinaturas nas correspondências eram autênticas; os bilhetes dos amigos tinham sua energia; os papéis eram timbrados, feitos sob encomenda, caracterizando o estilo de cada um, empresarial ou pessoal.
O carteiro era um bom companheiro e vinha com uma bagagem de impor respeito, em uma época onde caminhar refletia saúde. Eu brincava com eles dizendo que se caminhar refletisse saúde, carteiro era imortal.
Era uma “pacotaiada” de correspondência que gerava selos. Selos que serviam para a Campanha Internacional do Rotary. Naquela época, não tão distante assim, havia essa coleta de selos para a campanha, onde eles eram trocados por serviços à comunidade. Selos que tinham sua beleza e seu diferencial.
Porém, em 1995, chega o e-mail com força total no Brasil e a maneira de se corresponder muda um pouco. Uma nova e rápida maneira de enviar mensagens abala o hábito de correspondência das pessoas. Ou pelo menos de uma parte das pessoas: aquelas que possuíam acesso a uma linha telefônica e um computador que pudesse ser conectado a um provedor.
Espetacular, inacreditável, incrível era o que muitos diziam. E alguns que ainda não conhecem dizem até hoje!
Especulou-se, na época, sobre a queda brutal de cartas circulantes no país e um possível abalo no movimento dos Correios. Mas, o mesmo mercado que criou uma eventual preocupação incumbiu-se de dar a solução. Acontece a invasão das empresas que fazem vendas pela internet e pela TV e que passam a usar os Correios como meio de entrega: a “pacotaiada” dos Correios começa a bater recordes.
Hoje passo a receber em meu e-mail mensagens indesejáveis. Listas de e-mails são criadas e vendidas a rodo pela própria internet. Chega então o inimigo número 1 da comunicação “internética”: o Spam.
Haja paciência para, todos os dias, limpar a caixa postal do computador e, mais paciência ainda, tentar encontrar meios eficazes de bloquear a entrada destas mensagens no computador.
Todos os emissores de Spam acreditam que vão ficar milionários da noite para o dia, oferecendo seu produto e que todos vão comprar. Em certa oportunidade consegui conversar com um dos campeões de Spam no Brasil. Ele me revelou que está deixando o mercado, pela simples razão do retorno ser tão pequeno que não compensa o esforço e dinheiro empregado. Isso tudo sem contar com o risco de ser apanhado que vem crescendo, afinal as leis do universo “internético” estão chegando para ficar. Outra coisa interessante é que, de milhares de e-mails enviados, mais de 40% não são recebidos, por diversas razões.
Então eu me pergunto: se o retorno não é o que se esperava, se a lei inibe a prática do Spam, por que será que tantas pessoas continuam enviando?
Eu acho que certas pessoas encontram prazer em fazer o proibido e causar transtornos a terceiros, e imagino que talvez seja esta a razão.
Mas esta não é a pior parte! Pessoas com as quais me correspondo por e-mail não estão respondendo às minhas mensagens, afirmando não terem recebido a mensagem.
Numa rápida pesquisa em meu escritório, descobrimos que muita gente ao deletar o “lixo internético” tem apagado, por conseqüência, muitas mensagens importantes.
Descobrimos que, principalmente, os agradecimentos e congratulações que faço não estão sendo recebidos e, talvez, estejam indo juntos com o turbilhão do botão “delete”.
Já solicitei a ressurreição de meu papel-carta timbrado e vou contribuir para meus queridos amigos carteiros levarem um pouco mais de bagagem.
Estou com saudade da tradicional correspondência e de toda sua energia.
Isso, para mim, significa dizer: lembrei-me de você…

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