O CASAMENTO ESTÁ EM CRISE

Até meados de 1910 o casamento era um ato de propriedade entre o marido e sua mulher. Isso era visto claramente quando o casal ia a uma festa e eram apresentados como Sr. e Sra. Fulano de Tal, utilizando-se o sobrenome do homem.

Existiam ainda os casamentos arranjados pelos pais a fim de que seus filhos mantivessem a nobreza da família, evitando assim que seus filhos contraíssem matrimônio com a plebe, achando que isso denegriria seu sobrenome e honradez.

Apesar de tudo isso, reinava o amor cortês e meloso que incentivava esta instituição, nascido com os poetas românticos do século XIX, e que nos mostravam o casamento como algo acima do bem e do mal.

Os Estados Unidos, com seus filmes hollywoodianos, adoçaram cada vez mais a instituição do casamento e fizeram-na sagrada.

Depois da Segunda Guerra mundial a mulher, finalmente, dá início ao seu despontar buscando uma frente de trabalho, que não a doméstica, procurando conquistar um espaço a mais dentro do casamento, além de cuidar dos filhos, cozinhar, lavar e costurar.

Há algumas décadas a mulher conseguiu maior liberdade para, além do casamento, ter um trabalho, optar pela divisão dos afazeres domésticos, educação dos filhos, enfim, dispor de sua vida como própria e não apenas como sombra do marido e dona-de-casa.

No final do século XX, veio a internet revolucionando a ordem e excitando as fantasias, tanto masculinas como femininas, onde a volta à realidade ainda, às vezes, é muita dura e decepcionante.

Certamente se não houvesse a instituição dessa ordem de convivência entre homens e mulheres, nada poderia estancar a libertinagem entre os povos.

Nos dias de hoje, apesar de muita fantasia em torno de seu contexto, o casamento ainda é motivo de muita discussão.

As pessoas dizem que nunca sabem, na verdade, o que as uniu num casamento. Na maioria das vezes quando questionamos as pessoas sobre o verdadeiro motivo, ouvimos como respostas sempre uma frase parecida com essas:

– “Ah, eu senti algo aqui dentro quando te olhei!”

– “Ah, foi amor a primeira vista!”

– “Logo que a vi sabia que seria minha esposa!”

– “Lutei com o mundo para me casar com ele, ninguém achava que devia…”

Ou seja, sempre sabemos o que mais atraiu as pessoas no momento do namoro, noivado até o “sim” do dia do casamento.

Porém quando há a separação, a dissolução desse casamento, encontram tantas razões que terminam com uma pilha de papel em uma vara de família, onde um simples vaso passa a ser uma valiosa peça da dinastia Ming.

Na maioria dos casos, sabe-se que 95% das separações têm seu início com a decisão feminina e são elas as primeiras a procurarem o advogado.

As mulheres possessivas e independentes deixam o marido autoritário pela constante disputa de opiniões e casam-se com o calado motorista.

Os homens independentes e cheios de conquistas terminam casando-se com a cordial secretária… mesmo tendo jurado quando casaram que a esposa era a sua mulher ideal.

Outras mais humildes que sabiam que seu príncipe encantado viria, mesmo que tardiamente, e as levariam para uma vida tranqüila e pacata, separam-se e juntam-se com o patrão, detentor de muitos bens.

Senhores na faixa dos cinqüenta anos, que estavam com a vida feita após um matrimônio de 20 anos, simplesmente trocam a mulher de 40 e poucos por duas de vinte, buscando sua juventude perdida.

Ufa!

Talvez se o casamento tivesse sido feito para durar ninguém precisasse jurar ou assinar…

Alma-gêmea ou alma-algema?

Acredito que é alma-algema, porque acaba aprisionando as pessoas a uma série de comportamentos que um dia culminam no precipício da desilusão assumida e, na rotina do dia-a-dia, as fazem refém de uma situação sufocante e anuladora de suas vontades e até mesmo de seus valores.

Quem sabe?

Pessoas opostas se atraem e se casam, porém terminam não ficando juntas, pois levam uma vida de eterna oposição.

O casamento não está em crise, sempre esteve…

Mas, com certeza, uma crise necessária que temos de aprender a superar, afinal é um dos marcos morais mais fortes em nossa sociedade que origina a família.

Certa vez quando Deus ia expulsar Adão e Eva do paraíso, parou, pensou melhor… e disse: “Adão e Eva, vocês podem permanecer no paraíso, mas vou condená-los ao resto da eternidade a viverem em família”… e, assim se fez.

Sou casado e gosto tanto do casamento que já me casei duas vezes, mas afirmo que esta é a segunda e a última…

Enfim, não vejo uma saída muito romântica para uma instituição que precisa sobreviver e está baseada no relacionamento humano e que, por muitas vezes, tem seus sentimentos torpedeados a cada instante pelas mazelas do mundo.

Casamento feliz talvez seja aquele em que a felicidade de um esteja na felicidade do outro; aquele onde ambos reconhecem seus defeitos e convivem com seus próprios e também os do outro; aquele onde ela não vai dormir com a camiseta que ganhou na última eleição e ele não passa o Domingo no sofá de chinelão; aquele em que ela não precisa lembrá-lo da data em que se casaram; aquele onde a rotina não se transforma numa corrosiva ferrugem; aquele em que o perdão é assunto diário na mesa do café, almoço e jantar; aquele onde ninguém quer mudar ninguém; aquele onde nenhum dos dois ensina, apenas aprende; aquele em que eles nunca esquecem o que um dia os uniu; aquele onde ambos investem diariamente em pequenas atitudes de carícia no coração do outro; aquele em que ambos envelhecem como jovens por terem vivido com a sabedoria dos idosos…

Casamento feliz, para mim, é aquele onde ambos reconhecem que não são humanos vivendo uma experiência de amor, mas aquele em que o amor está vivendo uma experiência humana.

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